sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

ps

ps:
um amigo achou que a última postagem era um ataque a ele..haha.... não é nada pessoal!
Não tenho nada contra engenheiros, explico aqui.
Apenas contra a prepotência de achar que sabe mais, seja de que profissão que for,
de música em relação ao músico praticante, ao cara que está fazendo isso o tempo todo.
Sobre a forma de pensar,
lembro da bela diferença que o Levi-Strauss fez entre engenheiro e bricoleur.
Talvez alguns engenheiros devam ler a respeito...da mesma forma que os artistas de fato
devam ler sobre "a estética do engenheiro", em Le Corbusier, antes de julgar sem prática.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

prepotência de engenheiro na música


Na época em que vivemos, a figura do engenheiro ganhou uma bela notoriedade, facilmente explicável do ponto de vista econômico e cultural. Ainda que as vezes não se diga, por exemplo, que a matemática que diz "fazer" é quase sempre matemática aplicada, basicamente alguma forma de cálculo, modelo ou receita aplicada a uma situação, em geral incrementada, o fato de ser sobre-valorizado, acima de poetas e da atividade artística por si mesma, nem precisa ser uma questão. O que não dá para engolir é a prepotência de achar que sabe mais arte que aquele que não passou pelas exatas, sem nem imaginar que, muitas vezes, alguns destes passaram mais que ele, mas preferem não vinculá-la à sua prática musical mais explícita ou mesmo profissional de compositor. As vezes, esta attitude é tomada mais por resistência e por crença na força autônoma da arte…do que por ignorância, como muitos acreditam.
Uma vez, um desses notáveis me disse que o compositor era um animal e que só os engenheiros davam bons compositores. Fiquei bastante assustado pelo facismo da afirmação, mas fui conferir e vi que a sua música não era expressiva, nem demonstrava desejo de ser. Logo percebí que muito desta prepotência se associava ao fato de não terem a atividade de criação musical como centro verdadeiro da sua prática, mas sim uma espécie de “reputação matemática”.
A tese facista cai por terra facilmente. Não há associação direta nenhuma entre bom artista e engenheiro! Mas é claro que existem bons músicos mais matemáticos, como existem bons músicos menos.
Na hora da criação, nada disso realmente importa, é tudo questão de saber focar os processos criativos e não colocar a música como atividade “extra-curricular”, seja pendendo para um lado ou outro d agama de conhecimentos. Nem mesmo curricular ele deve ser! Ela é uma necessidade de vida para quem compõe.
Naquela ocasião, o engenheiro parecia querer compensar através de algum sucesso tecnocrático da carreira, a sua falta de expressão e de atividade artística. E o que me deixou triste na verdade: através de um sentimento de frustração profundo, combativo. Alguns dos notáveis, inclusive, são incapazes de fazer perguntas de conhecimento musical a músicos que não sejam notáveis, sendo capazes apenas de enunciar críticas elaboradas e respostas “inteligentes”, como se fossem mais detentores de conhecimento, como se o músico fosse mais burro. Não entendo tão bem esta prepotência, mas é possível explicá-la do ponto de vista trabalhista e econômico. Não há dúvida de que centrar de fato (e não de direito) sua atividade na própria arte é muito menos rentável e promissor socialmente. Mas percebí uma regra: ao querer parecer mais sábio em música, ou onde esta prepotência aparece forte, basta fazer o teste: observe suas últimas produções artísticas. Geralmente, você sairá decepcionado.

domingo, 22 de novembro de 2009


Assistir a 2012 talvez nos permita perceber as leves mutações que sofre o imaginário mais facista norte-americano frente às mudancas político-econômicas que os americanos têm enfrentado.  Roland Emmerich, que já dirigiu pérolas do gênero
como Independence Day e The Day after Tomorrow, continua liderando a pastelaria na aplicação da fórmula geral. Mas
alguns detalhes são alterados numa tentativa de adaptação "genética" deste conjunto pérfido de valores que são incutidos
e perpetrados na classe média do país e mesmo aqui.
Neste filme, o presidente americano morre (pequena adaptação), tentando encontrar o papai de uma menininha perdida  (símbolos maravilhosos para a situação atual das forças imperiais em relação à idéia de nação).  Mas sua moral
é reestabelecida, quando seu principal secretário declara a nobreza do "capitão que afunda com seu navio"
(vale lembrar o sub-texto: o mundo é um navio cujo capitão é o presidente americano, mas o chefe
das máquinas está no porão, ninguém vê, e é salvo pela sua suposta visão de mundo realista...) 


Mas a mutação bem mais interessante é de outra ordem.

O héroi principal não é o cirurgião plástico bem  sucecido, mas o escritor mal-sucedido, que pela sensibilidade e

exorcismo de ego, consquista o jovem cientista brilhante, reconquista a ex-mulher (que não dá a mínina
pra morte do seu atual marido cirurgião nas engrenagens da arca-de-noé que os salvariam...). 
Claro que todos os que morrem, com excessão, é claro, do presidente, têm alguma culpa no cartório moral.  
Mas esta mutação nos faz lembrar que o herói agora deve ter suas fragilidades, seu anti-heroísmo, como na série do
doutor House. Mas ao contrário de House, a suposta bondade coletiva dos bonzinhos e a maldade individual dos
bandidinhos continua bem demarcada.
Vale assistir para entender como persistem os valores mais nojentos que as últimas décadas ainda perpetuam,
de maneira totalmente exposta e anedótica, daí didática. Cinema-nutrição (depois do vômito, claro...).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

High-rise ou Um lugar ao sol, de Gabriel Mascaro

Procurar captar a essência da elite brasileira talvez seja uma das tarefas mais válidas e difíceis hoje em dia. Digo isto porque em geral o foco da origem da desigualdade, de todo bla-bla-bla social, está sendo colocado no lugar errado, em outros domínios, de forma que a elite fique sempre bem escondida e protegida. Gabriel Mascaro foi brilhante ao simplesmente "deixar falar" a arrogância elegante da elite esclarecida do país. Mais filmes como esse são essenciais para que a classe média e alta percebam a forma horrorosa como a elite pensa, com adornos de Penelope. Uma prepotência embutida na tentativa de tornar "simpática" a indiscutível prepotência de moradores de coberturas, em doses mais ou meos sutis. Alguns momentos são capazes de gerar até mesmo nojo e repulsa à nossa elite "cordial", para lembrar do Sérgio Buarque, pois a forma de pensar invertida desta elite aparece em diferentes cores de narcisismo e auto-sacralização, extremamente nítidas.
Sempre foi este um dos problemas do país: a forma de pensar e agir de sua elite...O filme escancara a falta de consciência destas pessoas, que se colocam como mais próximas do céu, e o que é mais triste: não apenas literalmente...Do cafetão principal do país à alemã exploradora, culturalmente "esclarecida", da madame que saca o que está acontecendo e se retira arrogantemente, ao seu filhinho deslumbrado, fraco e prepotente, do casal gay ingênuo e feliz à família deslumbrada pelo espetáculo dos tiros no rio de janeiro...
Grande sacada do Gabriel Mascaro!!Usar narcisismo dos ricos para mostrar a própria forma como pensam, quando pensam (e não se vangloriam)....e se a música do Cazuza tem alguma sentido, ele aparece aqui com seus graus violência revestidos por ursinhos de pelúcia, "Quando Nietszche chorou", e por aí vai....genial.

Espero que mais filmes deste tipo sejam produzidos sobre a elite deste país!
seja um link da entrevista do Gabriel.

http://www.youtube.com/watch?v=9uXK6uapIOw&feature=related

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Retina de ramagens dançantes


guelra sua


se o lago tem sede
jorrando
tão poucos anos

vê-se a moenda
em sobressalto

e nos túneis
logo, logo, chove de novo


(Alpendre, pg. 53)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

speeq


Nada como a "música contemporânea" acontecer na periferia.
O grupo Speeq fez uma ótima performance em Nova Cachoeirinha: uma espécie de free jazz com alguma experimentação a mais.  Detalhe mais cri-cri:
é sempre bom perceber como a experiência traz a generosidade.
O pianista e o cantor se tornavam mais expressivos justamente por não querer provar nada, e ter seus
momentos de silêncio. O baixista e o baterista, embora excelentes performers,
ainda não sabem "sossegar". Eles ainda tem uma escuta dos braços, não da alma.
A falta do trabalho de ressonância e de solos calmos se explica pela proviniência do free jazz.
Mas não seria sonhar muito imaginar esses ótimos músicos  sabendo acalmar e sentir mais as filigranas
de sons pequeninos...Phil Minton é uma dádiva a parte.  Dá vontade de escrever para ele cantar!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Alpendre

Alguns me perguntaram o que significa alpendre. Acho que
existe a definição do dicionário e a outra que é  também uma indefinição...
A do dicionário ajuda a localizar o terreno da mais indefinida:

Normalmente é entendido como uma faixa pavimentada 
sobre a qual avança o beiral do telhado que cobre a casa:
um tipo de varanda que estabelece uma graduação bastante marcada 
entre os espaços interiores e exteriores.



Alpendre. Ed. livropronto 2009. 








quinta-feira, 1 de outubro de 2009

São Paulo além das Horas - lindo curta

Raramente um curta nos toca e nos deixa sem palavras.
Eliane Coster fez um lindo trabalho em São Paulo além das horas,
curta de 2009. Um senhor de idade, relojoeiro dos principais relógios
da cidade durante 60 anos é entrevistado durante a pesquisa do filme
mas falece no ano seguinte. Seu neto segue seu caminho.
Na linda entrevista, ele fala dos sons dos relógios de forma tão extraordinária,
e finaliza: na hora de ir, vou a pé.....chapéu para Eliane e equipe!!!
Com trabalhos assim é que podemos excercer alguma força real de poesia,
mesmo que hoje ela seja tão irrelevante. é principalmente hoje que ela se torna
mais necessária do que nunca....


Águavolúpiametal - terceiro movimento, para piano solo (2002)

Mais do que nada, gosto da força contida nas massas deste movimento.
Para quem quiser ouvir, o arquivo é: aguavolupiametalIII.wav

Este trecho explora a imaginação de um espectro de lá torcido de formas diferentes, como na idéia de torsão na geometria....brinquei um pouco com o patchwork/open music associado ao audiosculpt aqui. Mas o open music só dá alguns calculos bobos, depois o legal é jogar no teste dos timbres do instrumento.
Chega-se aqui a torcer o centro para lá bemol, criando gravitações com linhas de fuga variadas, uma idéia de perca de órbita e retorno...ela foi reescrita algumas vezes, sempre com caras meio diferentes. Essa é a primeira versão. Enjoy...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O gato da velha bêbada

decorado de existir

codifica uma narcose do dorso


(Alpendre, 2009 - Ed. Livropronto)

sábado, 19 de setembro de 2009

O Anticristo tem seus grandes momentos de expressão. O Prólogo e o Epílogo, regados com a pungente e insubstituível Lascia ch'io pianga  de Haendel, exibe cenas PB e em câmera lenta com grandes detalhes e sutilezas. Interessante que o contraste nos lembra o efeito que muitas propagandas buscam com a mesma técnica de imagem em alto detalhe, preta e branca e com câmera lenta, mas sem nunca atingir o teor humano de um Lars von Trier. Incrível constatar como a leveza delas  pode se associar também com esta "tradição" da imagem épica na publicidade. O filme caminha com grandes atuações mas também com suas fraquezas de percurso, normal...A raposa falante não convence, por exemplo. William Defoe está excelente, Charlotte Gainsburg também. O peso das cenas de mutilação não é tão chocante nos dias de hoje, mas na hora H....já a carga da existência dilacerada é muito pior: seu fluxo contínuo é moldado com grande propriedade. Lars von Trier continua firme e forte, criando momentos bastante sublimes.




terça-feira, 15 de setembro de 2009

trecho do Díptico Céu-Terra - II. Ventos e Grumos - início

Coloquei o início do segundo movimento de uma peça feita quando eu estava em Belo Horizonte. Foi regida aqui pelo Carlos Moreno, que fez um ótimo trabalho nas condições que temos. Estava com uma certa idéia fixa de musica meccanica que se quebra, que se espatifa, acho que dá pra notar pelos sons....!
será preciso desenvolver isto por outras vias agora. tenho percebido que preciso mais de processos e menos de "quadros de uma exposição"....

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Entre, de Bonvicino

R. Bonvicino escreve muitas vezes de forma bem instigante e inteligente. Seus textos
críticos quase sempre dizem algo com força, coragem e direção.
Já Entre reúne alguns poemas que não condizem com isto, parece estar
no esteio do publicista globalizado, em meio a banalidade do sexo,
dos "horizonte e cápsulas". Talvez porque esperava mais dele.
Mas sempre é assim, na hora de fazer arte é que a porca torce o rabo.
Exemplo de onde a coisa não fica de pé..

"Etc 1" começa forte ("Tateava um morteiro e seu alcance"...."sondava o ânimo,
clandestino, de um elmo, seu afã"... verso-emboscada excelente...mas,
de repente,
"me sentia só
ao som das teclas de um piano"

catapum...cai nas garras do que critica...


Mais tarde no livro, parece
faltar um pouco de força na sondagem (crítica?) das kate-mocices e há um certo tom
enobrecedor do pilulyupismo da vida atual...just another world free-lancer in the marketplace?
Não, mas evidentemente, no ideal do cotidiano hiper-modernista,
o lado retrô do marxismo normalmente serve de guia para uma boa crítica:
o que chama de parnaso-marxismo é um ótimo conceito para descrever muitos comportamentos,
um verdadeiro achado.
Mas existem tantos possíveis quanto se queira: o kate-mocismo, a poesia pós-pop-globalizada...
tarjetas mil quando se quer criticar, onde qualquer detalhe de uma adversidade decadentista vira fácil estratégia de reabsorção para crítica ou mesmo para a arte.
Claro, há momentos lindos da poesia, onde a trança das palavras permanece em movimento.
Mas é sempre interessante ver como é fácil falar dos outros quando  em nossas "sorveterias globais" 
podemos observar uma alienação mais escondida do que aquela criticada com precisão como "inconsistência", publicismo ou romantismo meio barato em  textos que não os nossos,
como no que Bonvicino critica com precisão em Leminski.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Delantales - construção sonora modular, trilha de Paradis Perdut

Aventais, parte da trilha sonora antiga do espetáculo Paradis Perdut,
do meu querido Tiago Carneiro da Cunha. Barcelona, 1996.
Ingênua, porém com muita força de vida, foi
feita com irrisório midi de marimba, na Univ. Pompeu Fabra,
quando ainda tinha dedos e algum neurônio. doce lembrança
das pessoas  do grupo. que recuerdo!
entre-embaços e inversão,
algum aprendizado:
não se vê por transparência, pois nela
se deduz o que há, o que é.

a visão é sempre outra, bem mais da noite,
o sonho de uma sensação que não basta por si mesma.

(alguma lição da minha escultura favorita de Angelo Venosa)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

batismo

Batismo deste espaço...um poema do livro Alpendre, 2009:
A bigorna
tórax de ressônancia
brilha (cega) entre os pêssegos
Fustiga a sequencia das cepas
desfecha capelas
na aldeia de alguns lares
e os pronomes perdidos da viagem
azedam no seio da ama-de-leite gigante