sexta-feira, 5 de novembro de 2010

uso de filosofias

Depois de discutir alguns temas com um grande amigo, sinto que um dos problemas sérios da elite intelectual atual é o usar filosofias ou até "ciências" recentes para justificar práticas supostamente "sociais" sem, de fato, agir para o benefício de quem precisa mais. Um intelectual querer  permanecer no gabinete?Sem problemas. Há diferentes formas de trabalho. Depois de deixar  o trabalho na periferia, decidi agora entrar no gabinete por um bom tempo. Mas é preciso ser honesto, há quem use discurso como estratégia de marketing social e quem use para de fato tentar compreender e agir onde é necessário. Com o uso de filósofos recentes, isto acontece a torto e a direito.  Um seguidor pode até usar seus conceitos livremente e fazer belos discursos. O problema não está apenas na deturpação dos conceitos a partir de um uso mais livre, mas na forma como eles são usados para justificar práticas individualistas camufladas com enfeites sociais, as vezes maqueadas de uma suposta atuação social que  só traz algum efeito a uma elite seduzida.  Outro dia um seguidor de uma destas seitas filosóficas me disse: o problema da esquerda é que ela opera sobre uma falsa demanda..haha...nada mais claro: o que interessa a ele é a demanda, ou seja, a clientela. E quem é a clientela dele? Os filhos de papis, aqueles que também somos ou fomos. Nada mais conformista socialmente. E assim, o uso de uma filosofia ou de uma ciência para justificar a venda de uma autoimagem social pode se tornar finalidade primeira de um intelectual. é preciso ter cuidado com estes sedutores da palavra, é preciso ver o que de fato fazem, não o que falam e propagandeiam sobre uma prática elitizada que pode chegar ao ponto de usar pessoas com necessidades especiais. Você não vê estes dom juans da palavra atuando regularmente na periferia, a clientela é sempre outra. Mas por que, se o discurso categórico (com nomes de conceito bonitos) a respeito do social é tão eloquente? Decidi parar de ir ao Capão por morar longe, mas lá via de tudo , mas com a diferença de que havia também gente de verdade, atuando de verdade, para as pessoas que precisam de verdade. Não gente vendendo autoimagem e iludindo a própria elite intelectual a que pertencemos. Em BH, a ação era bem mais efetiva, pois era morador do bairro e não havia a sensação ruim de ser o estrangeiro dando aulas gratuitas na comunidade. Essa é uma dificuldade que sinto aqui em SP.  Mas nesses lugares não há categorias, você não é um nome com adjetivos de carreira etc. Você pode ser de fato um agente local de uma micro-política e só isto.