quarta-feira, 30 de junho de 2010

Música contemporânea e periferia: elitismo inconsciente?




O exemplo mais diveritdo do elitismo da música contemporânea é discussão com compositores a respeito do poder desta música na periferia. Por uma experiência forte a respeito, começo a rir com frequência com a postura dos compositores que dizem que isto é um equívoco, dada uma suposta distância cultural e a tal "violência".
Antes, é preciso fazer uma distinção: a música contemporânea não é tanto uma música burguesa, como muitas vezes se criticou. Ela é elitista e isso é diferente. Por elite, não entendo quem tem mais poder financeiro ou mercadológico simplesmente: mais que representar um bom dinheiro, a elite pode representar um grande capital intelectual, formas de polidez, costumes, medos sociais, repartições sociais via cultura etc. Quem trabalha com periferia costuma se tornar meio tosco aos olhos de quem vive apenas em meio a esta elite: constato isto na minha relação com família e amigos ou colegas criadores. As maneiras de se relacionar mudam e não percebemos bem: é preciso um grande exercício de cuidado; tenho mais medo da elite que dos amigos e alunos da perifa. Os artistas e intelectuais de alto ranking são as pessoas mais amedrontadas para o mundo que eu conheço, do ponto de vista social. Falam, esbravejam, defendem-se, adornam o umbigo, mas a coragem de ação não ultrapassa os bairros ricos ou seu circuito de trabalho restrito e elitizante. E quando há ação num sentido aparentemente abrangente, ela é top-down, em geral através da máquina estatal, com suas válvulas de pressão pouco criativas e altamente mantenedoras das estruturas de contenção social.  Exercício de côrte....ainda com circunflexo elegante.
Muitos artistas, especialmente aqueles com altos cargos estatais, são, na verdade, extramemente acomodados do ponto de vista social. Costumam fazer uma auto-propaganda grande sobre ações socialmente muito restritas ou limitadas. Quando são supostamente abrangentes e supostamente efetivas, elas são parte de uma estratégia anestésica de governo. Você já se perguntou por que as coisas permanecem assim? Com uma visão cima-baixo ou auto-historicizante, elas nunca vão mudar.
O único trabalho concreto que vi transformação é a ação direta e horizontal, local e transformadora de dez  a quinze pessoas, as quais multiplicam a ação para outras pessoas até atingir uma ação social de bairro efetiva. Isto é muito gratificante.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

reinaldo azevedo comete outra injustiça - agora a vítima é Saramago

Cito aqui um comentário que fiz sobre mais um artigo irresponsável de Reinaldo Azevedo, agora sobre Saramago.


"Caro Reinaldo,
apenas gostaria de demonstrar um dos erros deturpadores de sua leitura. Você cita um trecho de Saramago e depois comenta, dizendo que ele "não é o primeiro comunista a achar que a humanidade não tem direito à vida", e cita regimes totalitários e tal. Mas olha o que Saramago diz: Saramago: "Vivemos na violência. Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras -no plano privado e no plano público." Logo depois você (Reinaldo Azevedo) comenta: "Saramago não é o primeiro comunista a achar que a humanidade não tem direito à vida." Ele não diz nada sobre achar que a humanidade não tem direito à vida! Cuidado para não deturpar o que lê, em função do que quer defender."

quarta-feira, 23 de junho de 2010

sobre tática esportiva em composição musical

Nos últimos anos, umas das formas mais interessantes que tenho buscado para compor é se valer de esquemas táticos do esporte. A mais simples foi composta com base no esquema do basquete, em que temos armador, ala e pivô. Cada instrumento assume a função por oitenta por cento ou mais do tempo de uma peça.
O armador tem uma maior constância, equilíbrio, ditribui ideias, é uma espécie de espinha dorsal da jogada sonora. Em Jardim Jangadeiro (2008), o piano assume esse papel. O pivô trabalha como conexão entre as outras funções e pega os "rebotes", sendo mais responsorial. O ala é mais livre e inventivo, mais incisivo, mas não deixa de se aliar a um e outro.
Estou agora elaborando uma peça orquestral com esquemas do futebol, o que complica bastante a história.
Quem segue quem, quem se relaciona com quem e como, taí uma metáfora para a composição que me alimenta.