terça-feira, 8 de dezembro de 2009

prepotência de engenheiro na música


Na época em que vivemos, a figura do engenheiro ganhou uma bela notoriedade, facilmente explicável do ponto de vista econômico e cultural. Ainda que as vezes não se diga, por exemplo, que a matemática que diz "fazer" é quase sempre matemática aplicada, basicamente alguma forma de cálculo, modelo ou receita aplicada a uma situação, em geral incrementada, o fato de ser sobre-valorizado, acima de poetas e da atividade artística por si mesma, nem precisa ser uma questão. O que não dá para engolir é a prepotência de achar que sabe mais arte que aquele que não passou pelas exatas, sem nem imaginar que, muitas vezes, alguns destes passaram mais que ele, mas preferem não vinculá-la à sua prática musical mais explícita ou mesmo profissional de compositor. As vezes, esta attitude é tomada mais por resistência e por crença na força autônoma da arte…do que por ignorância, como muitos acreditam.
Uma vez, um desses notáveis me disse que o compositor era um animal e que só os engenheiros davam bons compositores. Fiquei bastante assustado pelo facismo da afirmação, mas fui conferir e vi que a sua música não era expressiva, nem demonstrava desejo de ser. Logo percebí que muito desta prepotência se associava ao fato de não terem a atividade de criação musical como centro verdadeiro da sua prática, mas sim uma espécie de “reputação matemática”.
A tese facista cai por terra facilmente. Não há associação direta nenhuma entre bom artista e engenheiro! Mas é claro que existem bons músicos mais matemáticos, como existem bons músicos menos.
Na hora da criação, nada disso realmente importa, é tudo questão de saber focar os processos criativos e não colocar a música como atividade “extra-curricular”, seja pendendo para um lado ou outro d agama de conhecimentos. Nem mesmo curricular ele deve ser! Ela é uma necessidade de vida para quem compõe.
Naquela ocasião, o engenheiro parecia querer compensar através de algum sucesso tecnocrático da carreira, a sua falta de expressão e de atividade artística. E o que me deixou triste na verdade: através de um sentimento de frustração profundo, combativo. Alguns dos notáveis, inclusive, são incapazes de fazer perguntas de conhecimento musical a músicos que não sejam notáveis, sendo capazes apenas de enunciar críticas elaboradas e respostas “inteligentes”, como se fossem mais detentores de conhecimento, como se o músico fosse mais burro. Não entendo tão bem esta prepotência, mas é possível explicá-la do ponto de vista trabalhista e econômico. Não há dúvida de que centrar de fato (e não de direito) sua atividade na própria arte é muito menos rentável e promissor socialmente. Mas percebí uma regra: ao querer parecer mais sábio em música, ou onde esta prepotência aparece forte, basta fazer o teste: observe suas últimas produções artísticas. Geralmente, você sairá decepcionado.

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