Assistir a 2012 talvez nos permita perceber as leves mutações que sofre o imaginário mais facista norte-americano frente às mudancas político-econômicas que os americanos têm enfrentado. Roland Emmerich, que já dirigiu pérolas do gênero
como Independence Day e The Day after Tomorrow, continua liderando a pastelaria na aplicação da fórmula geral. Mas
alguns detalhes são alterados numa tentativa de adaptação "genética" deste conjunto pérfido de valores que são incutidos
e perpetrados na classe média do país e mesmo aqui.
Neste filme, o presidente americano morre (pequena adaptação), tentando encontrar o papai de uma menininha perdida (símbolos maravilhosos para a situação atual das forças imperiais em relação à idéia de nação). Mas sua moralé reestabelecida, quando seu principal secretário declara a nobreza do "capitão que afunda com seu navio"
(vale lembrar o sub-texto: o mundo é um navio cujo capitão é o presidente americano, mas o chefe
das máquinas está no porão, ninguém vê, e é salvo pela sua suposta visão de mundo realista...)
Mas a mutação bem mais interessante é de outra ordem.
O héroi principal não é o cirurgião plástico bem sucecido, mas o escritor mal-sucedido, que pela sensibilidade e
exorcismo de ego, consquista o jovem cientista brilhante, reconquista a ex-mulher (que não dá a mínina
pra morte do seu atual marido cirurgião nas engrenagens da arca-de-noé que os salvariam...).
Claro que todos os que morrem, com excessão, é claro, do presidente, têm alguma culpa no cartório moral.
Mas esta mutação nos faz lembrar que o herói agora deve ter suas fragilidades, seu anti-heroísmo, como na série do
doutor House. Mas ao contrário de House, a suposta bondade coletiva dos bonzinhos e a maldade individual dos
bandidinhos continua bem demarcada.
Vale assistir para entender como persistem os valores mais nojentos que as últimas décadas ainda perpetuam,
de maneira totalmente exposta e anedótica, daí didática. Cinema-nutrição (depois do vômito, claro...).
Nenhum comentário:
Postar um comentário