terça-feira, 15 de março de 2011

outro conto


“Aceita essas amoras? São do meu jardim!”

Sua casa parece um refúgio campestre escondido em plena capital. Uma cadeira de balanço, uma enorme folha seca da Amazônia, e um cocar são apenas minúcias entre imagens de todas as religiões, esculturas, quadros e algumas porcelanas chinesas. Mas a ostentação parece ausente da sua trajetória. Vestida de tricô, jeans délavé e sandálias de dedo, é tão simples que esconde o refinamento de quem vive cercada de luxos.

Harmonia só é possível para alguém que torna o requinte um mero detalhe. Na adolescência, cogitou ser amazona (atualmente, a paixão por cavalos e a equitação seguem como hobby). Deixou de fumar há tempos, mas, de certa forma, tudo onde vive é assim, meio old times, como o cigarro de palha o qual não resiste vez ou outra. “Talvez eu seja meio caipira, não?” Silêncio. Seria brejeira? Ela refuta.  “Eu só gosto de simplicidade”.

Entre os períodos sabáticos na França e Nova Zelândia, já são dez anos que mora sozinha. A independência é revelada numa pequena – mas deslumbrante – coleção de insetos em resina, outra de sementes e até uma cabeça de gnu, que trouxe de sua última viagem a Paris, cidade que visita ao menos duas vezes por ano. E se o lugar onde vive é repleto de histórias e sentimentos, o closet guarda surpresas de fazer chorar muita lulu experiente. “Amo sapatos, mas o que me resume são as botas, e as melhores são as italianas. Sou virginiana, detalhista, quero ainda muito mais”.  Raramente usa maquiagem, só carrega algumas jóias, um anel e correntes de ouro, presentes do namorado. Pretende se casar? “Eu acho uma ilusão a mulher pensar que vai se realizar apenas no trabalho. Acredito que a mulher só é completa com a família, com os filhos. Sou defensora da paixão. O amor é piegas, não?” Imagina, dear, o romantismo é raro e lindo.

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