Depois de sentir violência moral um tanto boba, percebí porque não gosto do facebook.
Ele é a face do próprio capital atualizado (ou uma das suas formas de vida mais pavorosas).
Ali circula informação como um capital cultural entre escolhidos. Veja minha vida, veja
como curto coisas, tenho amigos, sou engajado etc ok (mas muito embora: não posso odiar nada
nem mostrar a verdade mais crua e direta sem ser considerado um
terrorista (daí ser uma arma tão forte do capitalismo atual).
Daí seu sucesso: se tem alguma face, é a do próprio capital atual.
Se ele independe de governos e provoca swarmings políticos,
ele apenas direciona estas energias ao modelo de democracia que bem conhecemos.
Mas isto seria considerado esquerdismo tonto...claro.
A participação de grupos e de diálogos se torna uma espécie de moeda moral
e existencial. O fluxo é diferente e contínuo, daí o sucesso. Orkut não tinha este fluxo capitalizador...
Tudo circula rápido o suficiente para virar esquizofrenia de vitrine e de esquecimento.
Em geral, o êngodo vira marca de classe média alta sem muito noção
do que é trabalhar fora da sua própria "realidade"de relações (democráticas?). Democracia de
eleitos por comadrismo protegido num mundo feito de linguagem,
ou seja, suave e doce como as brioches de algum um tempo atrás...
sexta-feira, 18 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
outro conto
“Aceita essas amoras? São do meu jardim!”
Sua casa parece um refúgio campestre escondido em plena capital. Uma cadeira de balanço, uma enorme folha seca da Amazônia, e um cocar são apenas minúcias entre imagens de todas as religiões, esculturas, quadros e algumas porcelanas chinesas. Mas a ostentação parece ausente da sua trajetória. Vestida de tricô, jeans délavé e sandálias de dedo, é tão simples que esconde o refinamento de quem vive cercada de luxos.
Harmonia só é possível para alguém que torna o requinte um mero detalhe. Na adolescência, cogitou ser amazona (atualmente, a paixão por cavalos e a equitação seguem como hobby). Deixou de fumar há tempos, mas, de certa forma, tudo onde vive é assim, meio old times, como o cigarro de palha o qual não resiste vez ou outra. “Talvez eu seja meio caipira, não?” Silêncio. Seria brejeira? Ela refuta. “Eu só gosto de simplicidade”.
Entre os períodos sabáticos na França e Nova Zelândia, já são dez anos que mora sozinha. A independência é revelada numa pequena – mas deslumbrante – coleção de insetos em resina, outra de sementes e até uma cabeça de gnu, que trouxe de sua última viagem a Paris, cidade que visita ao menos duas vezes por ano. E se o lugar onde vive é repleto de histórias e sentimentos, o closet guarda surpresas de fazer chorar muita lulu experiente. “Amo sapatos, mas o que me resume são as botas, e as melhores são as italianas. Sou virginiana, detalhista, quero ainda muito mais”. Raramente usa maquiagem, só carrega algumas jóias, um anel e correntes de ouro, presentes do namorado. Pretende se casar? “Eu acho uma ilusão a mulher pensar que vai se realizar apenas no trabalho. Acredito que a mulher só é completa com a família, com os filhos. Sou defensora da paixão. O amor é piegas, não?” Imagina, dear, o romantismo é raro e lindo.
segunda-feira, 14 de março de 2011
conto do nosso livrinho
Esqueça o estereótipo. Ele é banqueiro, ongueiro e brasileiro. Não, não exala tensão ou fica amuado entre cifras e dividendos. Ele é a cara mais serena do novo sistema financeiro. Self-made man dos trópicos, budista, não tem medo de fazer sucesso. Crença: acredita no poder do Universo, mas não numa força superior que possa ser chamada de Deus. Especializado em crédito consignado, é engajado, festeiro e, pasmem, solteiro. Entre juros, merendas e celebridades, apareceu meio de repente no jet-set nacional. Um pedaço de mal caminho.
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