domingo, 3 de janeiro de 2010

wonky, pastiches, pastéis e capitalismo

Depois de ouvir algumas pretenciosas novidades em música eletrônica popular, fico me perguntando uma série de coisas sobre o conceito de wonky, por exemplo, dentre muitas bobagens possíveis. Claro, meu marxismo fora de moda é sempre antipático. Talvez pareça haver aqui uma frouxidão e inclusividade estética, do Rave, ao Dustep, G-funk, Hip-hop mais sofisticado, Crunk, IDM, pop, e mil outras categorias. Mas é preciso dizer: o wonky e outras práticas têm um lado interessante e positivo, pois ele parece operar como um agente transgenético sobre as categorias "fossilizadas". O fato de operar em vários andamentos nos tiraria um pouco da tirania do loop banal (claro, em grande parte doce ilusão...a função continua ali hegemônica, e quando é supostamente mais "experimental", a moldura facista do recorte hipnótico não é nunca totalmente retirada...retorna invariavelmente para capturar a escuta e aprisioná-la como de costume, sem gerar "ruído" verdadeiro, no sentido da comunicação). Já o lado politicamente correto da inclusividade inclui uma valorização da internacionalização, produtores de múltiplos países etc, o que pode ser visto positivamente...kkk. Mas voltemos um pouco ao ponto:
wonky...como conceito, é bem interessante...pode indicar tanto desquantização de baterias, como outras coisas, synth em pitch bend, elaboração mínima do baixo para além do mais óbvio etc.  Há uma idéia de fazer parecer um derretimento de solidificações, fluidificação, texturas alongadas mas fugidias, como a do capital que o espalha...mas veja: sempre com um certo mito do "deslocado", do "fora de lugar", "fora de tom" (na verdade, com sons e feições ultra pasteurizados e bombardeados!), com afetações paródicas de estilo, nostalgia psíquica, algo que já foi bem analisado na discussão do "pós-moderno". Incrível é não enxergar as práticas repetidas desde os anos 60 pela milésima vez neste tipo de atitude estética, ou mesmo de qualquer surrealismo musical bem anterior, as tais gastas sopas de "significantes de futuro e de passado". Mas ponto central que encontro aqui: talvez o wonky e outras práticas "musicais" banalmente comuns de hoje indiquem o duplo mais próximo do capitalismo atual, uma forma clara de sua expressão: desejo de uma fluidez sem raízes "fixas" (aparente, evidentemente), o horror do masturbaton coletivo (ou seja, a filosofia do "tocamos junto sem fazer amor, o que vale é a auto-expressão no coletivo, pois "somos desapegados e livres"), e, claro, a manipulação de arcaísmos estruturais e de sentido, baseados em significantes "referenciais", sob um formalismo forte, e o uso da nostalgia alienadora que se traveste de falsa subversão de modismos precedentes.
o velho e caquético marx volta aqui, obrigado sempre, mas socorro meu véio...como fugir desses muros?
fazendo amor sonoro, o de verdade, e bem mais raro...raro até mesmo na música contemporânea oficial.
mas claro, sempre aparece um sparkle, um bolhazinha de experimentação surpreendente que voa para fora dos infernos... e é isso que buscamos nessas escutas...viva a música de múltiplas formas, mas com consciência da função que exercem na tal sociedade de controle....

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