Ontem fui assistir o Conto de inverno, de Eric Rohmer. Sem dúvida, conhecido como um grande mestre do cinema francês, recentemente falecido, foi também um dos maiores musicólogos da história, na minha opinião. Talvez justamente por não ter a rigidez acadêmica do profissional no assunto, tratou Mozart, Beethoven, dentr e outros, com idéias novas e fascinantes, com o frescor de quem escuta profundamente, não apenas ouve.
Confesso que saí no meio do Conto de Verão, foi impossível assistir: é difícil não achar chato, dado tantos diálogos existenciais pretenciosos. Mas o Conto de inverno, graças a sabedoria de um amigo que me arrastou, me fez sentir a sutileza com que ele opera o comportamento das personagens. Apesar do "discutir a relação" contínuo que os franceses adoram, o que ele mostra, no fundo, é que mesmo o mais decente, honesto e justo dos seres humanos (no caso, a professora de filosofia), tem sempre um momento de egoísmo básico em relação às possibilidades amorosas, mais hora, menos hora. No caso, a maestria é deixar esse momento da nossa heroína-em-náusea para a penúltima cena. Viva Rohmer e apesar do meu desgosto, é preciso saber reconhecer: com ele encerra-se mais um grande traço do existencialismo.
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