domingo, 22 de novembro de 2009


Assistir a 2012 talvez nos permita perceber as leves mutações que sofre o imaginário mais facista norte-americano frente às mudancas político-econômicas que os americanos têm enfrentado.  Roland Emmerich, que já dirigiu pérolas do gênero
como Independence Day e The Day after Tomorrow, continua liderando a pastelaria na aplicação da fórmula geral. Mas
alguns detalhes são alterados numa tentativa de adaptação "genética" deste conjunto pérfido de valores que são incutidos
e perpetrados na classe média do país e mesmo aqui.
Neste filme, o presidente americano morre (pequena adaptação), tentando encontrar o papai de uma menininha perdida  (símbolos maravilhosos para a situação atual das forças imperiais em relação à idéia de nação).  Mas sua moral
é reestabelecida, quando seu principal secretário declara a nobreza do "capitão que afunda com seu navio"
(vale lembrar o sub-texto: o mundo é um navio cujo capitão é o presidente americano, mas o chefe
das máquinas está no porão, ninguém vê, e é salvo pela sua suposta visão de mundo realista...) 


Mas a mutação bem mais interessante é de outra ordem.

O héroi principal não é o cirurgião plástico bem  sucecido, mas o escritor mal-sucedido, que pela sensibilidade e

exorcismo de ego, consquista o jovem cientista brilhante, reconquista a ex-mulher (que não dá a mínina
pra morte do seu atual marido cirurgião nas engrenagens da arca-de-noé que os salvariam...). 
Claro que todos os que morrem, com excessão, é claro, do presidente, têm alguma culpa no cartório moral.  
Mas esta mutação nos faz lembrar que o herói agora deve ter suas fragilidades, seu anti-heroísmo, como na série do
doutor House. Mas ao contrário de House, a suposta bondade coletiva dos bonzinhos e a maldade individual dos
bandidinhos continua bem demarcada.
Vale assistir para entender como persistem os valores mais nojentos que as últimas décadas ainda perpetuam,
de maneira totalmente exposta e anedótica, daí didática. Cinema-nutrição (depois do vômito, claro...).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

High-rise ou Um lugar ao sol, de Gabriel Mascaro

Procurar captar a essência da elite brasileira talvez seja uma das tarefas mais válidas e difíceis hoje em dia. Digo isto porque em geral o foco da origem da desigualdade, de todo bla-bla-bla social, está sendo colocado no lugar errado, em outros domínios, de forma que a elite fique sempre bem escondida e protegida. Gabriel Mascaro foi brilhante ao simplesmente "deixar falar" a arrogância elegante da elite esclarecida do país. Mais filmes como esse são essenciais para que a classe média e alta percebam a forma horrorosa como a elite pensa, com adornos de Penelope. Uma prepotência embutida na tentativa de tornar "simpática" a indiscutível prepotência de moradores de coberturas, em doses mais ou meos sutis. Alguns momentos são capazes de gerar até mesmo nojo e repulsa à nossa elite "cordial", para lembrar do Sérgio Buarque, pois a forma de pensar invertida desta elite aparece em diferentes cores de narcisismo e auto-sacralização, extremamente nítidas.
Sempre foi este um dos problemas do país: a forma de pensar e agir de sua elite...O filme escancara a falta de consciência destas pessoas, que se colocam como mais próximas do céu, e o que é mais triste: não apenas literalmente...Do cafetão principal do país à alemã exploradora, culturalmente "esclarecida", da madame que saca o que está acontecendo e se retira arrogantemente, ao seu filhinho deslumbrado, fraco e prepotente, do casal gay ingênuo e feliz à família deslumbrada pelo espetáculo dos tiros no rio de janeiro...
Grande sacada do Gabriel Mascaro!!Usar narcisismo dos ricos para mostrar a própria forma como pensam, quando pensam (e não se vangloriam)....e se a música do Cazuza tem alguma sentido, ele aparece aqui com seus graus violência revestidos por ursinhos de pelúcia, "Quando Nietszche chorou", e por aí vai....genial.

Espero que mais filmes deste tipo sejam produzidos sobre a elite deste país!
seja um link da entrevista do Gabriel.

http://www.youtube.com/watch?v=9uXK6uapIOw&feature=related