segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O gato da velha bêbada

decorado de existir

codifica uma narcose do dorso


(Alpendre, 2009 - Ed. Livropronto)

sábado, 19 de setembro de 2009

O Anticristo tem seus grandes momentos de expressão. O Prólogo e o Epílogo, regados com a pungente e insubstituível Lascia ch'io pianga  de Haendel, exibe cenas PB e em câmera lenta com grandes detalhes e sutilezas. Interessante que o contraste nos lembra o efeito que muitas propagandas buscam com a mesma técnica de imagem em alto detalhe, preta e branca e com câmera lenta, mas sem nunca atingir o teor humano de um Lars von Trier. Incrível constatar como a leveza delas  pode se associar também com esta "tradição" da imagem épica na publicidade. O filme caminha com grandes atuações mas também com suas fraquezas de percurso, normal...A raposa falante não convence, por exemplo. William Defoe está excelente, Charlotte Gainsburg também. O peso das cenas de mutilação não é tão chocante nos dias de hoje, mas na hora H....já a carga da existência dilacerada é muito pior: seu fluxo contínuo é moldado com grande propriedade. Lars von Trier continua firme e forte, criando momentos bastante sublimes.




terça-feira, 15 de setembro de 2009

trecho do Díptico Céu-Terra - II. Ventos e Grumos - início

Coloquei o início do segundo movimento de uma peça feita quando eu estava em Belo Horizonte. Foi regida aqui pelo Carlos Moreno, que fez um ótimo trabalho nas condições que temos. Estava com uma certa idéia fixa de musica meccanica que se quebra, que se espatifa, acho que dá pra notar pelos sons....!
será preciso desenvolver isto por outras vias agora. tenho percebido que preciso mais de processos e menos de "quadros de uma exposição"....

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Entre, de Bonvicino

R. Bonvicino escreve muitas vezes de forma bem instigante e inteligente. Seus textos
críticos quase sempre dizem algo com força, coragem e direção.
Já Entre reúne alguns poemas que não condizem com isto, parece estar
no esteio do publicista globalizado, em meio a banalidade do sexo,
dos "horizonte e cápsulas". Talvez porque esperava mais dele.
Mas sempre é assim, na hora de fazer arte é que a porca torce o rabo.
Exemplo de onde a coisa não fica de pé..

"Etc 1" começa forte ("Tateava um morteiro e seu alcance"...."sondava o ânimo,
clandestino, de um elmo, seu afã"... verso-emboscada excelente...mas,
de repente,
"me sentia só
ao som das teclas de um piano"

catapum...cai nas garras do que critica...


Mais tarde no livro, parece
faltar um pouco de força na sondagem (crítica?) das kate-mocices e há um certo tom
enobrecedor do pilulyupismo da vida atual...just another world free-lancer in the marketplace?
Não, mas evidentemente, no ideal do cotidiano hiper-modernista,
o lado retrô do marxismo normalmente serve de guia para uma boa crítica:
o que chama de parnaso-marxismo é um ótimo conceito para descrever muitos comportamentos,
um verdadeiro achado.
Mas existem tantos possíveis quanto se queira: o kate-mocismo, a poesia pós-pop-globalizada...
tarjetas mil quando se quer criticar, onde qualquer detalhe de uma adversidade decadentista vira fácil estratégia de reabsorção para crítica ou mesmo para a arte.
Claro, há momentos lindos da poesia, onde a trança das palavras permanece em movimento.
Mas é sempre interessante ver como é fácil falar dos outros quando  em nossas "sorveterias globais" 
podemos observar uma alienação mais escondida do que aquela criticada com precisão como "inconsistência", publicismo ou romantismo meio barato em  textos que não os nossos,
como no que Bonvicino critica com precisão em Leminski.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Delantales - construção sonora modular, trilha de Paradis Perdut

Aventais, parte da trilha sonora antiga do espetáculo Paradis Perdut,
do meu querido Tiago Carneiro da Cunha. Barcelona, 1996.
Ingênua, porém com muita força de vida, foi
feita com irrisório midi de marimba, na Univ. Pompeu Fabra,
quando ainda tinha dedos e algum neurônio. doce lembrança
das pessoas  do grupo. que recuerdo!
entre-embaços e inversão,
algum aprendizado:
não se vê por transparência, pois nela
se deduz o que há, o que é.

a visão é sempre outra, bem mais da noite,
o sonho de uma sensação que não basta por si mesma.

(alguma lição da minha escultura favorita de Angelo Venosa)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

batismo

Batismo deste espaço...um poema do livro Alpendre, 2009:
A bigorna
tórax de ressônancia
brilha (cega) entre os pêssegos
Fustiga a sequencia das cepas
desfecha capelas
na aldeia de alguns lares
e os pronomes perdidos da viagem
azedam no seio da ama-de-leite gigante