Há duas semanas morreu um dos nossos melhores compositores, Almeida Prado.
Se a produção é grande e oscila bastante, o que fica forte na minha memória é sua sensação de fé na criação, no sentido amplo de ambas as palavras, e muito além de seu catolicismo fervoroso ou da música.
Existe um certo consenso de que as Cartas Celestes formam sua obra mais
expressiva, mas talvez seja simplesmente a mais impressionante, pelo fato de ter sido um pianista excelente. Era uma pessoa bastante engraçada e apaixonada. Grande contador de histórias.
Suas aulas eram geralmente shows ao piano, histórias vividas, com bem pouca prática de escrita.
Ele mostrava que, de alguma forma, é no nosso "âmago" que a composição deve nascer, não das aulas
de um professor.
Enquanto os pianistas mais ortodoxos sempre observavam que suas Cartas
viravam outra coisa a cada vez que tocava, pouco a ver com o que havia escrito,
os estudantes de criação viam isto com olhos diferentes, viam diante deles que o processo de criação
é basicamente isto.
Nunca me esqueço da sua descrição do anjo da guarda, pois descreveu o que eu havia visto antes, tendo por testemunha meu grande amigo Cesar B. Isto foi motivo de duas semanas de piração pessoal.
O que mais nos marcava não era algum aprendizado de composição, mas um aprendizado de como viver
a criação musical de forma devocional e apaixonada.
Fica aqui nosso sentimento e nossa admiração.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
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